Mercados emergentes precisam de controle de capital para evitar catástrofes financeiras

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Traduzida por Carolina Alves.

Todos os países estão atualmente enfrentando a ameaça sem precedentes de uma crise global da saúde, recessão econômica e colapso financeiro, simultaneamente. Mas, ao contrário dos países ricos, os mercados emergentes (EMs) não têm autonomia política necessária para enfrentar essas crises. A hierarquia global de moedas coloca EMs na periferia dos mercados financeiros globais, expondo-os a paradas súbitas de fluxos de capital causadas por gatilhos como a crise COVID-19. Imediato controle de capital, coordenado pelo FMI,è necessário para evitar um desastre financeiro

Em uma crise financeira global, há uma pressa em manter ativos líquidos denominados em moedas seguras, especialmente dólares americanos. Isso permite ricos países responder a crises com as necessárias ferramentas fiscais e monetárias. O oposto é verdadeiro para os EMs. Desde o surto de COVID-19, investidores internacionais retiraram grandes quantias de ativos dos EMs, causando uma depreciação dramática da moeda, especialmente aqueles expostos à queda dos preços das commodities.

Na última década, ampla liquidez global impulsionada por bancos centrais de países ricos, juntamente com a demanda sustentada por ativos líquidos, levou a enormes fluxos de crédito e investimento de capital nos EMs, onde os títulos e as bolsas de valores cresceram por volta de 15 trilhões para 33 trilhões de dólares americanos entre 2008 e 2019. ‘Economias de fronteira’ e EMs corporações emitiram volumes substanciais de dívida em moeda estrangeira. Com o G20 incentivo, os EMs abriram seus mercados de títulos em moeda nacional para investidores internacionais. No que foi denominado a segunda fase da liquidez global, novos instrumentos e instituições financeiras, como fundos internacionais e fundos de investimento abertos negociados em bolsa (ETF), possibilitaram a fácil negociação global de EMs ativos, consolidando a ilusão de liquidez.

Os EMs agora são confrontados com uma parada repentina de capital, pois as condições globais de liquidez apertam e os investidores fogem do risco: a exposição aos EMs continua sendo uma estratégia de alto risco/alto retorno, a ser liquidada em tempo de crises. Consequentemente, os EMs enfrentam severo ajuste macroeconômico exatamente no momento em que todas as ferramentas disponíveis devem ser usadas para combater a crise de saúde pública apresentada pelo COVID-19. Alguns países podem ser forçados a implementar uma política monetária restritiva na tentativa de manter o acesso ao dólar, enquanto a ação fiscal pode ser restringida pelo medo de perder o acesso a mercados globais. É improvável que as reservas cambiais forneçam ‘colchão de segurança’ suficiente em todos os países.

Há uma necessidade urgente de ação para impedir que essa crise chegue a proporções catastróficas nos EMs. Apesar de pedidos de ação de longa data, ainda não existe credor internacional de última instância. Os únicos instrumentos atualmente disponíveis são empréstimos dos FMI e linhas de swap cambial temporárias entre bancos centrais. Os empréstimos do FMI normalmente impõem ajustes fiscais, o que seria desastroso nas condições atuais. Os Fed está pronto para fornecer dólares americanos a um punhado de bancos centrais: entre os EMs, apenas o México pode acessar as linhas de swap do Fed sob as disposições do NAFTA. Durante a crise financeira global de 2009, o acesso foi concedido apenas ao Brasil e à Coréia do Sul. Mas EMs, no G20 e além, são agora muito mais importantes para o económico crescimento mundial. O fracasso deles, ou de um grande quase-soberano tomador de empréstimo, poderia desencadear um contágio significativo.

Nos pedimos uma ação decisiva para restringir os fluxos financeiros atualmente transmitindo a crise aos EMs. Controles de capital devem ser introduzidos para reduzir a fuga de capitais, para reduzir a falta de liquidez causada por sell-offs nos EMs mercados, e para impedir quedas da moeda e preços dos ativos. A implementação deve ser coordenada pelo FMI para evitar estigma e evitar contágio. As linhas de swap cambial devem ser estendidas para incluir EMs, e então garantir o acesso ao dólar americano. Finalmente, concordamos com as recentes medidas fornecendo uma maior provisão de liquidez pelo FMI usando os Direitos de Saque Especiais (DSE) – mas isso deve ocorrer sem a imposição de ajuste fiscal pró-cíclico.

A crise que se desenrola é uma das mais graves na história econômica. Nós deve garantir que os governos possam fazer todo o possível para proteger seus cidadãos. Em nossa economia globalmente integrada, ações coordenadas são necessárias para minimizar as restrições externamente-impostas às economias emergentes, que por sinal enfrentam a tripla ameaça de pandemia, recessão e crise financeira.

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